Marquês de Maricá
A loucura nos velhos é mais disparatada que nos moços.
A loucura nos homens é tão versátil e variada, que os prudentes em seus cálculos não podem compreender todas as suas espécies e variedades.
A literatura inglesa instrui moralizando, a francesa deleita sensualizando: a primeira é racionalista, a segunda sensualista.
A lisonja, que corrompe os bons, torna piores os maus.
A lisonja foge da desgraça, a verdade a freqüenta.
A lisonja é o mel que adoça todos os incômodos, azedumes e importunidades dos empregos eminentes.
A liberdade sobeja sempre nos homens; o que lhes falta é juízo.
A liberdade sem religião se converte em libertinagem e devassidão.
A liberdade é como o vinho, pouco fortalece, muito enfraquece.
A liberdade é a que nos constitui entes morais bons ou maus: é um grande bem para quem tem juízo; e para quem o não tem, um mal gravíssimo.
A liberdade de pensar pode ser ilimitada, a de falar, escrever e obrar deve ser muito restrita e definida; não ofendemos com o pensamento mas com as palavras e ações.
A liberdade da imprensa em alguns países é a faculdade de anarquizar, seduzir e sublevar os povos impunemente.
A liberdade da imprensa é talvez o melhor remédio e corretivo do abuso das outras liberdades.
A leitura, como a comida, não alimenta senão digerida.
A leitura é um grande lenitivo para a velhice nos achaques que a incomodam, e reclusão a que obrigam.
A leitura deve ser para o espírito como o alimento para o corpo, moderada, sã e de boa digestão.
A lealdade refresca a consciência, a traição atormenta o coração.
A inveja, que abrevia ou suprime os elogios, é sempre minuciosa e prolixa na sua crítica e censura.
A inveja para seu tormento exagera o valor dos bens invejados.
A inveja não sabe avaliar os invejados, porque os vê de esguelha e obliquamente.
A inveja não empece os invejados e atormenta os invejosos.
A inveja habitual desforma o semblante dos enfermos deste mal.
A inveja e ciúme do mérito alheio acusa e revela a mediocridade do próprio.
A inveja de muitos anuncia o merecimento de alguns.
A inveja cobiça os bens e aborrece os que os possuem.
A inveja ambiciosa desdenha o que mais cobiça.
A inveja a ninguém enriquece ou enobrece.
A intriga que ocupa e diverte os moços, assusta e incomoda os velhos.
A intriga que alcança os empregos não habilita para bem servi-los.
A intriga é um labirinto em que de ordinário se perde o seu mesmo autor.
A intrepidez em muitos homens não é mais que estupidez.
A intolerância religiosa é uma censura, ou condenação da Divindade pela sua tolerância universal.
A intolerância irracional de muitos escusa ou justifica a hipocrisia ou dissimulação de alguns.
A intemperança nos arruína, e depois nos entrega à medicina.
A intemperança da língua não é menos funesta para os homens que a da gula.
A inteligência se limita quando se revela nos corpos figurados que a representam.
A inteligência revela-se na extensão e pela extensão.
A inteligência que procura a Deus o descobre em cada criatura e o admira em si própria.
A inteligência que procura a Deus o descobre em cada criatura e o admira em si própria.
A inteligência humana, admirável em suas produções intelectuais, ostenta nas livrarias a pompa da sua fecundidade e variedade.
A inteligência humana é um reflexo da Divina, como o clarão da lua é a reverberação da luz do sol.
A inteligência humana derivada da divina, contém alguma coisa da faculdade criadora e produtiva da sua origem, o que se manifesta nas obras inumeráveis dos homens, destinadas ao seu uso, cômodo, recreação e defesa.
A insignificância é tão penosa para os homens que muitos procuram surgir dela de qualquer modo possível, ainda mesmo pelos crimes.
A insignificância é a sepultura das monarquias.
A inocência sem virtude corresponde ao idiotismo.
A inocência é transparente, a malícia opaca e tenebrosa.
A ingratidão faz pressupor vistas de interesse no benfeitor, ou indignidade no beneficiado.
A ingratidão dos povos é mais escandalosa que a das pessoas.
A ingratidão descobre o vilão.
A ingratidão coletiva dos povos é punida pela ordem moral por uma pena igualmente coletiva.
A inexperiência da mocidade ocasiona a sua originalidade.
A individualidade humana se extingue pela morte; outra qualquer que dela derive e lhe sobreviva, é de natureza abstrusa e incompreensível à nossa inteligência.
A indiferença ou apatia que em muitos é prova de estupidez, pode ser em alguns o produto de profunda sapiência.
A incredulidade que é da moda nas pessoas moças, torna-se o seu tormento na velhice.
A inconstância humana é o produto necessário das variações da natureza, das circunstâncias e dos eventos.
A inconstância da fortuna esperança os desgraçados.
A impunidade tolerada pressupõe cumplicidade.
A impunidade promove os crimes, e de algum modo os justifica.
A impunidade não salva da pena e castigo merecido; retarda-o para o fazer mais grave pela reincidência e agravação das culpas e crimes subseqüentes.
A imprudência nos moços promove a sua atividade, a prudência nos velhos a sua inércia.
A imprudência de poucos compromete e incomoda a muitos.
A imprensa é livre somente para o partido poderoso e dominante.
A impostura e o engano alimentam a muita gente, que não teria emprego e morreria de fome se a verdade surgisse com todo o seu fulgor e dissipasse os erros e ilusões do gênero humano.
A importunidade é algumas vezes mais feliz que o merecimento.
A importância que os velhacos ambiciosos insignificantes alcançam pela anarquia, a fazem muito recomendável nos seus planos subversivos da ordem e tranqüilidade pública, e cobiça de governarem.
A importância que ambicionamos na mocidade nos é incomoda e onerosa na velhice.
A importância da riqueza e poder provém da capacidade que conferem aos homens de fazerem muito mal ou muito bem.
A impertinência e rabugem da velhice procede em algumas pessoas do tédio e fadiga de sofrer por muitos anos a turba incomoda de loucos, tolos, néscios e velhacos.
A imperfeição é a causa necessária da variedade nos indivíduos da mesma espécie. O perfeito é sempre idêntico, e não admite diferenças por excesso ou por defeito.
A impaciência, quando não remedeia os nossos males, os agrava.
A impaciência em que vivemos provém da nossa ignorância, queremos que os homens e as coisas sejam o que não podem ser, e deixem de ser o que são por sua essência e natureza.
A imaginação serve-se dos materiais que lhe oferece a memória, modificando-os e coordenando-os por modo novo e com variadas formas e imagens não existentes.
A imaginação ora aterra, ora diverte a razão para melhor a dominar.
A imaginação não é menos engenhosa em atormentar-nos do que em deleitar e recrear-nos.
A imaginação exagera, a razão desconta, o juízo regula. Maricá
A imaginação exagera de tal modo os nossos bens ou males futuros, que nos admiramos, quando chegam, de não corresponderem às nossas esperanças ou receios.
A imaginação é uma louca estouvada que tem a razão por curadora.
A imaginação é o recreio dos moços, como a reflexão a consolação dos velhos.
A imaginação dos homens figura tudo o que aliás qualifica de imaterial ou espiritual, não podendo conceber nem compreender o que não tem forma, figura nem lugar e limites no espaço.
A igualdade repugna de tal modo aos homens que o maior empenho de cada um é distinguir-se ou desigualar-se.
A ignorância, qual outro Faetonte, ousa muito e se precipita como ele.
A ignorância, lidando muito, aproveita pouco: a inteligência, diminuindo o trabalho, aumenta o produto e o proveito.
A ignorância, exagerando a nossa pouca ciência, promove a nossa grande vaidade.
A ignorância vencível no homem é limitada, a invencível infinita.
A ignorância tudo exagera, porque não conhece o justo meio.
A ignorância tem seus bens privativos, como a sabedoria seus males peculiares.
A ignorância pasma ou se espanta, mas não admira.
A ignorância nos homens é como a sabedoria em Deus, infinita.
A ignorância nos empregados públicos é talvez mais danosa do que a sua improbidade. Em um jardim causa menos detrimento um ladrão do que um jumento.
A ignorância não duvida porque desconhece que ignora.
A ignorância é sempre mais pronta em resolver-se do que a sabedoria.
A ignorância é prolixa em seus discursos, a sabedoria concisa e resumida.
A ignorância é audaz, não sabe avaliar o quanto arrisca.
A ignorância dócil é desculpável, a presumida e refratária é desprezível e intolerável.
A ignorância crê tudo, porque de nada duvida.
A idéia do mal é tão inseparável da do bem que uma não pode existir sem a coexistência de ambas.
A idéia de felicidade é tão variada nos homens, que não admira que eles difiram* tanto no seu procedimento para a conseguirem.
A idade de ouro não foi a primeira, há de ser a última das idades do gênero humano.
A honra anuncia virtudes, as honras nem sempre as supõem.
A história é nada para os povos, a experiência tudo.
A herança dos sábios tem sempre maior extensão e perpetuidade que a dos ricos: compreende o gênero humano, e alcança a mais remota posteridade.
A harmonia da sociedade, como da natureza, consiste e depende da variedade e antagonismo dos seus elementos e caracteres.
A guerra mais útil aos povos é a que se fazem mutuamente os ingratos, traidores, velhacos e ambiciosos.
A guerra mais útil aos povos é a que fazem os maus e os velhacos entre si mesmos.
A guerra civil pode ser considerada como um suicídio nacional.
A gravidade afetada provoca o riso e não granjeia reverência.
A gratidão também é produto do nosso amor-próprio: julgamo-nos desobrigados dos benefícios se nos confessamos agradecidos.
A grande riqueza para ser tolerada deve manter e divertir os pobres.
A grande e presente fermentação e descontentamento dos povos provém com especialidade da supressão, ou decadência das idéias e crenças religiosas; o vazio que ela ocasiona corresponde a um abismo.
A glória póstuma é um sonho da vida que não alcança os mortos.
A glória humana murcha como a beleza e as rosas, e os nomes dos grandes homens têm também de sumir-se no abismo do esquecimento e do nada.
A glória humana bem ponderada nunca vale quanto custa.
A genuína virtude não é austera nem sobranceira, mas alegre, amena e jovial.
A genuína sabedoria tende ao Infinito, e reconhecendo por muito limitada a felicidade sensual, procura na imensidade do Universo o objeto que lha pode conferir perene, incessante, inexaurível e eterna, e o descobre em Deus que é a vida, a luz, o movimento e a inteligência universal.
A genuína probidade distingue-se especialmente pela sua constante e escrupulosa exatidão.
A genuína maioridade é o juízo que a confere, e não a idade.
A genuína lealdade é caluniada e proscrita quando os traidores alcançam o poder e autoridade.
A gente moça evita a companhia dos velhos, como as pessoas suadas o ar frio, que as pode constipar.
A generalidade se individualiza pela vida, a individualidade se generaliza pela morte.
A fruição desencanta muitos bens e prazeres sensuais, que a imaginação, os desejos e as esperanças figuravam encantadores.
A franqueza tão reclamada, quando efetiva desagrada.
A fortuna sem virtudes é mais desastrosa que a desgraça.
A fortuna por inconstante esperança tanto o desgraçado como intimida o afortunado.
A fortuna faz de um tolo um potentado, como o sol no horizonte confere a um anão a sombra de um gigante.
A fortuna é cega somente para aqueles que a não compreendem.
A fortuna cega faz também cegos e surdos aos seus validos.
A força sem inteligência é como o movimento sem direção.
A força é hostil a si própria, quando a inteligência a não dirige.
A força é a razão suficiente dos tigres e dos malvados.
A fonte dos benefícios se estanca nos homens, em Deus é eterna, infinita e inexaurível.
A Filosofia, quando não extingue, dilui o patriotismo.
A filosofia promete muito e dá pouco; é magnífica nas suas promessas e mesquinha nos seus donativos.
A filosofia pode consolar-nos, mas não tem a eficácia de tornar-nos impassíveis.
A filosofia não entorpece a sensibilidade, quando muito pode chegar a regulá-la.
A filosofia é tão impotente, quanto a religião é poderosa para nos consolar nos males da vida, e determinar-nos a suportá-los com paciência e resignação.
A filosofia desagrada, porque abstrai e espiritualiza; a poesia deleita, porque materializa e figura todos os seus objetos. Quereis persuadir e dominar os homens, falai à sua imaginação, e confiai pouco na sua razão.
A filáucia dos moços diverte quando não incomoda os velhos.
A felicidade sensual é comum a todos os viventes, a moral, intelectual e religiosa privativa das criaturas racionais e inteligentes.
A felicidade sensual é a mais incompleta de todas: não pode subsistir sem o contraste e especiaria dos males.
A felicidade sensual consiste na saúde, a moral na virtude, a intelectual no estudo da natureza e a religiosa no amor e temor de Deus.
A felicidade que o luxo confere é temporária: mas a miséria que depois ocasiona, permanente.
A felicidade humana será sempre frágil e fugaz enquanto não tiver a sua origem e fundamento no amor e temor de Deus.
A felicidade dos entes racionais aumenta com o progresso da sua inteligência; os de maior intelecto são os que gozam mais da sua existência e do mundo em que residem.
A felicidade do velho achacado é negativa, consiste em não sofrer.
A felicidade das criaturas inteligentes cresce e avulta proporcionalmente com a noção progressiva que concebem de Deus e seus divinos atributos.
A felicidade consiste em não sofrer: quando não sofremos, gozamos necessariamente.
A fecundidade em palavras anuncia esterilidade em obras.
A Fé desobriga a razão de muito estudo, fadiga e aplicação.
A fazenda roubada nunca é bem aproveitada.
A fantasia é a lanterna mágica da nossa alma.
A familiaridade tira o disfarce, e descobre os defeitos.
A falsa filosofia convida os homens pelos prazeres sensuais; a verdadeira pelos morais, intelectuais e religiosos; a primeira tudo materializa; a segunda busca espiritualizar a própria matéria; uma isola o homem neste mundo também isolado; a outra lhe dá relações com o sistema universal, e o faz parte de um todo imenso; a primeira lhe confere uma existência efêmera e temporária; a segunda lhe eterniza a duração; aquela o faz bruto; esta semideus.
A facúndia dos velhacos é irresistível para os tolos.
A faculdade de sonhar dormindo, é um argumento poderoso de que existe em nós um princípio ou unidade sensível e inteligente, que, unida ao nosso corpo, o dirige e administra no exercício e processo da vida humana.
A facilidade e presteza com que alguns povos adotam as modas estrangeiras demonstram a sua leviandade, falta de caráter, juízo e nacionalismo.
A extensão substancial rarificada se espiritualiza, condensada se materializa.
A experiência que não dói pouco aproveita.
A existência de Deus no Universo criado é talvez comparável ao fogo no ferro em brasa, que distinto do metal o tem impregnado de sua substância ativa e luminosa.
A existência das criaturas vivas em sociedade pressupõe uma ordem moral que deve existir talvez igualmente para os animais gregários e sociáveis.
A exatidão e verdade acompanham a probidade.
A estultícia de uns provoca e suscita a velhacaria em outros.
A esperança descobre recursos, a desesperação os renuncia.
A esfera da ação do nosso corpo é tão limitada, quanto é vasta e incalculável a da nossa inteligência.
A escravidão voluntária é sacrifício temporário para alcançar senhorio permanente.
A escravidão nos amantes é ambição de senhorio.
A escravidão avilta o escravo e barbariza o senhor.
A embriaguez habitual se anuncia pelo desalinho pessoal.
A embriaguez é o refúgio ordinário dos maus e viciosos contra os reproches da própria razão e consciência.
A embriaguez do amor como a do vinho impele a iguais desatinos.
A eloqüência consiste em simbolizar a Natureza por palavras, que representem os seus fenômenos e excitem os mesmos sentimentos e emoções, que costumam ocasionar nos viventes racionais.
A educação das mulheres é mais obra da Natureza que a dos homens.
A economia, quando se apura muito, transforma-se em avareza.
A economia é companheira inseparável da probidade.
A economia do tempo é menos vulgar e mais importante que a do dinheiro.
A economia com o trabalho é uma preciosa mina de ouro.
A duração de um bem não assegura a sua perpetuidade.
A doutrina do Panteísmo e Otimismo universal, é mais ou menos implicitamente professada em todos os sistemas religiosos, que aliás rejeitam ou reprovam os vocábulos que a representam.
A doçura e beleza das mulheres parecem inculcar que são anjos e serafins que desceram dos Céus e se humanaram na terra.
A ditadura de um homem prestigioso e justiceiro é o corretivo mais eficaz da anarquia geral e popular.
A dissimulação algumas vezes denota prudência, mas ordinariamente fraqueza.
A dificuldade de existir na velhice com os achaques que a atormentam, nos faz desejar a morte como libertadora de todos os nossos males.
A diferença nos sexos produz a sua união.
A dialética do interesse é quase sempre mais poderosa que a da razão e consciência.
A devoção nas mulheres promove a religião nos homens.
A despesa produtiva enriquece, a improdutiva empobrece.
A desgraça, que humilha a uns, exalta o orgulho de outros.
A desgraça final dos ambiciosos do poder e mando não desengana os novos aspirantes aos mesmos pretendidos bens; a ambição alucina por tal modo os homens, que lhes não deixa estudar e ponderar o passado, nem prever e calcular o futuro.
A desgraça de muitas pessoas provém de não quererem ser o que são, mas pretenderem chegar a mais do que podem ser.
A desconfiança é a sentinela da segurança.
A democracia é como a tesoura do jardineiro, que decota para igualar; a mediocridade é o seu elemento.
A degeneração moral tem sido por vezes qualificada de regeneração política.
A decantada civilização tem multiplicado de tal modo as nossas necessidades e desejos, que para os contentar e satisfazer somos forçados, piorando de costumes, a sujeitar-nos a maiores trabalhos e cuidados.
A curiosidade se apascenta de notícias, e o mundo é um teatro de novidades.
A cultura da razão pelo estudo, exame e reflexão, pode conduzir-nos a um grau de saber que nos ponha em contradição com as opiniões vulgares: neste caso, devemos ser prudentes, evitando disputas, e esperando do tempo a madureza das verdades.
A criatura sensível e inteligente, que chegou a adorar, amar e admirar a Deus, não pode ser inteiramente mortal: há nela alguma coisa de divino que sobrevive à mesma morte.
A criação sendo uma solene manifestação da infinita sabedoria de Deus é igualmente o objeto, argumento e demonstração da sua eterna bondade e beneficência.
A crença universal e instintiva do gênero humano em uma vida futura, é argumenta irrefragável de sua existência e realidade.
A crença mais razoada é sempre a mais firme e permanente.
A credulidade e confiança de muitos tolos faz o triunfo de poucos velhacos.
A credulidade dos néscios os sujeita à autoridade, promove a sua obediência, e é profícua neste sentido à sociedade.
A consciência para muita gente é uma velha rabugenta, que de tudo ralha e de nada se contenta.
A conquista das vontades e corações assegura a posse das pessoas e seus serviços.
A conduta do avarento faz presumir que ele não crê na Providência de Deus, nem confia na caridade dos homens.
A covardia, aviltando, preserva freqüentes vezes a vida.
A civilização moderna tem reduzido o número dos tolos, mas aumentado proporcionalmente o dos velhacos.
A civilização moderna é devida mais à derrubada de erros antigos acumulados, que à descoberta de verdades novas.
A civilidade, limando e polindo, nos lira a firmeza e solidez.
A civilidade ensina a dissimular para não ofender.
A civilidade encobre ou dissimula o egoísmo.
A civilidade é uma impostura indispensável, quando os homens não têm as virtudes que ela afeta, mas os vícios que dissimula.
A civilidade é uma convenção tácita entre os homens de se enganarem reciprocamente com afetada gentileza e benevolência.
A civilidade é muitas vezes a mordaça da verdade.
A civilidade contribui muito para perpetuar os vícios e defeitos dos homens fingindo desconhecê-los, ou dissimulando a impressão escandalosa que ocasionam.
A civilidade chega a limar de tal modo os homens, que por fim os deixa, sem cunho nem caráter, lisos e safados.
A ciência pressupõe juízo, não o compreende necessariamente.
A ciência médica ensina a curar os doentes, a arte da guerra a matar os sãos.
A ciência humana é um agregado ou complexo de inumeráveis erros com muitas verdades, o que se prova pela divergência e variedade incalculável de opiniões e doutrinas entre os homens.
A ciência humana é cousa muito pouca neste orbe planetário, mas prelúdio de outra progressiva em inumeráveis mundos que os nossos espíritos guarnecidos de corpos correspondentes aos seus diversos sistemas e relações têm de habitar, conhecer, gozar e admirar eternamente.
A ciência em um velho aloucado agrava a sua insânia e multiplica os seus desvarios.
A celebridade que custa pouco tem pequeno fulgor e duração.
A categoria da nossa existência nas vidas futuras será correspondente ao nosso bom ou mau procedimento nas antecedentes.
A capacidade das inteligências distingue-se pela facilidade de descobrir relações, achar analogias, fazer abstrações, e generalizar idéias.
A cada um dos nossos sentidos corresponde externamente um mundo de fenômenos maravilhosos, o mundo da luz e das cores, os dos sons, cheiros, sabores, formas, figuras, densidades, calor e frio. Que sabedoria a do Autor e Inventor dos sentidos.
A cada instante se desatam da árvore da vida inumeráveis folhas substituídas por outras que de novo brotam, não convindo que fiquem despidos o seu tronco e ramos, mas sempre cobertos e frondosos. A árvore da vida é o reino animal, as folhas que caem os viventes que morrem, surgindo outros de novo que nascem para lhes suceder.
A bondade é inseparável da sabedoria: podemos ser bons sem ser sábios, mas ninguém é sábio que não seja bom.
A benevolência não é eficaz sem a beneficência que a completa.
A beneficência perfeita alcança e compreende também os mesmos animais.
A beneficência nos confere a virtude magnética de atrair os homens e fazê-los contribuir e interessar-se na nossa felicidade.
A beneficência é sempre feliz e oportuna quando a prudência a dirige e recomenda.
A beneficência alegra ao mesmo tempo o coração de quem dá e de quem recebe.
A bênção dos velhos felicita os moços que a sabem merecer e respeitar.
A bênção dos pais é ventura e cabedal para os bons filhos.
A beleza é uma letra que se vence à vista, a sabedoria tem o seu vencimento a prazos.
A beleza é uma harmonia, qualquer que seja o seu objeto.
A barateza dos governos, como a dos artigos de mercancia, inculca a sua inferior qualidade ou avaria.
A barateza dos governos desacredita os que governam, e não honra os governados.
A bandeira da virtude, em suas campanhas, tem por legenda: Existência e Abstinência.
A avareza promove a temperança e aconselha a dieta.
A avareza é mais um achaque adicional da velhice.
A avareza contribui muito para a longevidade pela dieta e abstinência.
A avareza ajunta quando a prodigalidade espalha.
A autoridade impõe e obriga, mas não convence.
A autoridade humana é muito poderosa: a razão cede ordinariamente aos seus ditames e doutrinas.
A autoridade é tão poderosa entre os homens, que sustentamos e defendemos com ela as nossas opiniões individuais.
A autoridade de poucos é e será sempre a razão e argumento de muitos.
A austeridade dos cínicos é ambição de autoridade.
A austeridade conosco é virtude, com os outros pode ser tirania, injustiça ou imprudência.
A audácia dos anarquistas é prodigiosa: ousam muito porque nada aventuram e esperam tudo.
A atividade dos maus se resolve finalmente em seu dano e detrimento.
A aranha fabrica a sua teia para viver, a lagarta a sua mortalha para morrer.
A aquisição de um amigo leal e constante não é difícil, quando o buscamos na raça animal dos cães.
A anarquia tem por castigo e corretivo a tirania.
A anarquia em alguns países é constitucional, tem a sua origem e fundamento nas próprias Constituições.
A anarquia é tão grande flagelo nas nações, que o tirano que prevaleceu e chegou a suprimi-la é reputado o salvador do povo e o seu melhor amigo.
A anarquia é o estado em que todos tiranizam, e nenhum governa.
A anarquia é ingrata, proscreve e condena por fim os seus doutores e promotores.
A anarquia começa a dominar quando todos pretendem governar.
A amizade mais perfeita e mais durável é somente aquela que contraímos com o nosso interesse.
A amizade de alguns homens é mais funesta e danosa do que o seu ódio ou aversão.
A amenidade do semblante anuncia a bondade do coração.
A ambição, para chegar ao poder, toma algumas vezes o caráter desprezível e asqueroso do cinismo.
A ambição, como a avareza, se afadiga muito para ser cada vez mais miserável.
A ambição tortura e tritura os homens.
A ambição sujeita os homens a maior servilismo do que a fome e a pobreza.
A ambição se recomenda freqüentemente por amor do bem geral; os tolos a acreditam, os prudentes suspeitam, os sábios a desmentem.
A ambição pode muito em uns homens, em outros a vaidade, em todos o interesse.
A ambição nos faz perder freqüentes vezes os bens de que gozamos, correndo inutilmente após daqueles que cobiçamos.
A ambição faz enlouquecer os homens, a paixão de amor as mulheres.
A ambição encanecida toma-se mais feroz e homicida.
A ambição do poder e honras contrariada na mocidade prorrompe mais atroz e violenta na velhice.
A ambição de poder e mando tem feito infeliz a muita gente que seria feliz se não fosse ambiciosa.
A ambição de ciência é tão serena e aprazível em seu processo e meios quanto a do poder e honras é violenta e tormentosa: a primeira tem a sabedoria por objeto, a segunda a dominação ou tirania.
A alteza dos pensamentos anuncia a nobreza dos sentimentos.
A aliança da razão com o coração é necessária e indispensável na peleja e resistência contra as paixões.
A alegria e tristeza são mais intensas e expansivas no homem que em algum outro animal: o seu pranto e riso o manifestam.
A alegria do sábio e do justo é interior e serena; a do ignorante e vicioso, ruidosa e exterior.
A alegria do pobre, ainda que menos durável, é sempre mais intensa que a do rico.
A afetação da virtude custa mais que o seu exercício.
A admiração exclui o louvor por diminuto.
A admiração é uma das maiores prerrogativas da natureza humana.
Em vão procuramos a verdadeira felicidade fora de nós, se não possuímos a sua fonte dentro de nós.
Muito pouco se padece na vida, em comparação do que se goza; aliás, não sendo assim, como se viveria?
Querendo prevenir males de ordinário contingente, o homem prudente vive sempre em tortura, gozando menos do presente do que sofre no futuro.
Viver é gozar e sofrer, resistir e batalhar com os homens, as coisas, os eventos e os elementos.
Não devemos gozar para sofrer, mas sofrer para melhor gozar.
A suspensão, remoção ou cessão de um grave mal são reputados pelo paciente como um grande bem: deixar de sofrer é também gozar.
Os crimes fecundam as revoluções e lhes dão posteridade.
Uma boa leitura dispensa com vantagem a companhia de pessoas frívolas.
Um século censura o outro século, como em nossa vida uma idade condena a outra.
Uma cabeça má arruina o corpo inteiro.
Todos reclamam reformas, mas ninguém quer se reformar.
Os mais arrojados em falar são ordinariamente os menos profundos em saber.
O interesse explica os fenômenos mais difíceis e complicados da vida social.
Os abusos, como os dentes, nunca se arrancam sem dores.
O homem que despreza a opinião pública é muito tolo ou muito sábio.
Pode-se graduar a civilização de um povo pela atenção, decência e consideração com que as mulheres são educadas, tratadas e protegidas.
O roubo de milhões enobrece os ladrões.
Sem os males que contrastam os bens, não nos creríamos jamais felizes por maior que fosse nossa felicidade.