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Monteiro Lobato

Se Chico Xavier produziu tudo aquilo por conta própria, então ele merece ocupar quantas cadeiras quiser na Academia Brasileira de Letras.

A coisa que menos me mete medo é o futuro.

Escrever é gravar reações psíquicas. O escritor funciona qual antena – e disso vem o valor da literatura. Por meio dela, fixam-se aspectos da alma dum povo, ou pelo menos instantes da vida desse povo.

Assim como é de cedo que se torce o pepino, também é trabalhando a criança que se consegue boa safra de adultos.

A mulher não é inferior nem superior ao homem. é diferente. No dia em que compreerdemos isso a fundo, muitos mal-entendidos desaparecerão da face da terra.
Obs.: Prefácio ao livro No carinho da luz, de Josefina Sarmento Barbosa, 1921.

Porque para o homem o clima ?certo? é um só: o da liberdade. Só neste clima o homem se sente feliz e prospera harmoniosamente. Quando muda o clima e a liberdade desaparece, vem a tristeza, a aflição, o desespero e a decadência.
Obs.: O Minotauro, 1939.

A natureza criou o tapete sem fim que recobre a superfície da terra. Dentro da pelagem desse tapete vivem todos os animais, respeitosamente. Nenhum o estraga, nenhum o rói, exceto o homem.
Obs.: Miscelânea, 1946.

O verdadeiro amigo de um pintor não é aquele que o entontece de louvores; mas sim o que lhe dá uma opinião sincera, embora dura, e lhe traduz chãmente, sem reservas, o que todos pensam dele por detrás.
Obs.: Idéias de Jeca Tatu, 1919.

Futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros tantos ramos da arte caricatural.
Obs.: Idéias de Jeca Tatu, 1919.

O certo em literatura é escrever com o mínimo possível de literatura. (…) a mim me salvaram as crianças. De tanto escrever para elas, simplifiquei-me.
Obs.: Carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 1/2/1943.

Depois que me vi condenado a seis meses de prisão, e posto numa cadeia de assassinos e ladrões só porque teimei demais em dar petróleo à minha terra, morri um bom pedaço na alma.
Obs.: Carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 17/9/1941.

A primeira vítima da televisão vai ser a velha e boa Saudade, que no fundo é filha da Lentidão e da Falta de Transportes. A saudade desaparecerá do mundo. Em breve futuro a palavra ?longe? se tornará arcaísmo.
Obs.: Carta a Godofredo Rangel, Nova York, 17/8/1928.

No fundo não sou literato, sou pintor. Nasci pintor, mas como nunca peguei nos pincéis a sério, arranjei, sem nenhuma premeditação, este derivativo de literatura, e nada mais tenho feito senão pintar com palavras.
Obs.: Carta a Godofredo Rangel, Areias, 6/7/1909.

Há dois modos de escrever. Um, é escrever com a idéia de não desagradar ou chocar ninguém (…) Outro modo é dizer desassombradamente o que pensa, dê onde der, haja o que houver – cadeia, forca, exílio.
Obs.: Carta a João Palma Neto, São Paulo, 24/1/1948.

No fundo, o que há contra mim é inveja em conseqüência de minha vitória comercial nas letras. Até o fim do ano, passo dos 2 milhões em minhas tiragens.
Obs.: Carta a Jaime Adour da Câmara, São Paulo, 10/5/1946.

Todos os nossos males, econômicos, financeiros e morais, (…) provêm de uma causa única: pobreza, anemia econômica. Vou além: miséria.
Obs.: Carta a Alarico Silveira, Nova York, 3/5/1928.

Estou condenado a ser o Andersen desta terra – talvez da América Latina.

Passei nesta prisão, General, dias inolvidáveis, dos quais me lembrarei com a maior saudade. Tive o ensejo de observar que a maioria dos detentos é gente de alma muito mais limpa e nobre do que muita gente de alto bordo que anda à solta.

Continuo traduzindo. A tradução é minha pinga. Traduzo como o bêbado bebe: para esquecer, para atordoar. Enquanto traduzo, não penso na sabotagem do petróleo.

As fábulas em português (…) são pequenas moitas de amora do mato, espinhentas e impenetráveis. Um fabulário nosso, com bichos daqui em vez dos exóticos, se feito com arte e talento, dará coisa preciosa.

O que não somos nunca é ovelha – fiel ovelha do Santo Padre, de Sua Majestade o Rei, do Partido, da Convenção Social, dos Códigos da Moral Absoluta, do Batalhão, de tudo que mata a personalidade das criaturas.

A história dos historiadores coroados pelas academias mostra-nos só a sala de visitas dos povos. (…) Mas as memórias são a alcova, as chinelas, o penico, o quarto dos criados, a sala de jantar, a privada, o quintal (…) da humanidade.

Aqui jaz um homem que nunca leu a ‘Brasiliana’ nem ouviu a Hora do Brasil.
Obs.: Entrevista ao Jornal de São Paulo, 1946.

Tentei arrancar de mim o carnegão da literatura. Impossível. Só consegui uma coisa: adiar para depois dos 30 o meu aparecimento. Literatura é cachaça. Vicia.

O que mais aprecio num estilo é a propriedade exata de cada palavra.

Está provado que tens no sangue e nas tripas um jardim zoológico da pior espécie. É essa bicharia cruel que te faz papudo, feio, molenga, inerte. Tens culpa disso? Claro que não.

O caboclo é o sombrio urupê de pau podre (…) Só ele não fala, não canta, não ri, não ama. Só ele, no meio de tanta vida, não vive.

Meu plano agora é um só: dar ferro e petróleo ao Brasil.

Ele é isso. Corre na frente com o facho, a espantar todos os morcegos e corujas e a semear horizontes.

Nada de imitar seja lá quem for. (…) Temos de ser nós mesmos (…) Ser núcleo de cometa, não cauda. Puxar fila, não seguir.

Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira – mas já tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum.

Para a treva só há um remédio, a luz.

Fui mexer na minha tremenda papelada epistolar e tonteei. É coisa demais. É um mundo.

Nunca no mundo uma bala matou uma idéia.

Acho a criatura humana muito mais interessante no período infantil do que depois de idiotamente tornar-se adulta.

Porque tenho sido tudo, e creio que minha verdadeira vocação é procurar o que valha a pena ser.

Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar.

Um só campo existe aberto, hoje, para as obras esculturais de algum vulto: o cemitério.

A consciência do homem comum mora no bolso, eis tudo.

Erro pensar que é a ciência que mata uma religião. Só pode com ela outra religião.

Um país se faz com homens e livros.

Um governo deve sair do povo como a fumaça de uma fogueira.

A natureza só permite aos gênios uma filha: sua obra.

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